cartas de casa

uma zine por Michele Contel, publicada exclusivamente para os apoiadores da newsletter Sobre todas as coisas que eu —, do Substack.

pensando cada vez mais sobre os caminhos que ficaram pelo meio /
de repente me vejo ainda mais em Marciano, Esther e Caulfield /
ansiosos pelo que desponta no horizonte,  mas nostálgicos pelo que não pode mais ser vivido.  

I was young when I left my home 〰️

I was young when I left my home 〰️

"Nostos, voltar para casa. Algos, dor. Nostalgia é o sofrimento causado por nosso anseio não realizado de voltar. Independentemente de essa casa pela qual ansiamos já haver existido ou não."

— Deve ter algo errado comigo (p. 113), Meg Mason

não importa qual seja a minha localização - 
por toda a minha história,

são paulo 
               sempre 
                            será 
                                    sinônimo de                                          casa.

Lembro de quando suas luzes invadiram meus olhos.
Foi amor ao primeiro farol.

Foi também deslumbramento, euforia, excitação e rebeldia.
Foi pertencimento, também mas, acima de tudo, foi amor.

Há dois anos somos nós e o mundo todo em uma avenida só.

2017

a long way from home

~ how did we get here?

a long way from home ~ how did we get here?

desde 2015 —

ler meus livros,
ver minhas séries e replicar meu próprio universo em qualquer lugar em que esteja é uma forma de tornar lar onde quer que seja minha morada.

1977

News From Home, Chantal Akerman

quantas casas formam um lar?

até me mudar para são paulo, nunca havia me mudado antes. foram 24 anos vivendo no mesmo cep. aos 23, decidi ficar 531km mais longe de minha cidade natal. não foi fácil, mas foi a melhor coisa que fiz na vida. voltava para "casa" todos os meses. construía minha vida em são paulo, mas sem tirar o pé de tudo o que tinha conquistado em araçatuba.

foi assim que vivi em meu primeiro não-lugar.

na vila mariana tive meu primeiro endereço na capital e comecei a minha vida longe. a fazer o meu lar. o número 53 foi cenário de várias temporadas; morei com diferentes pessoas, de desconhecidos a amigos. de amigos que viraram desconhecidos e amigos que se tornaram irmãos.

anos depois, fui para minha primeira casa-só-minha, na bela vista; um ano depois, dividi um apartamento de novo no mesmo bairro e veio a pandemia. morei na minha própria cabeça, naquele tempo. depois, morei no copan. e em florianópolis. e então, voltei para a vila mariana.

meu primeiro e último endereço em são paulo foi o primeiro endereço da vida da minha filha. cíclico.

hoje, a 11 457 km de casa, começo a criar um novo lar e retorno ao já conhecido não-lugar. ora me abraça, ora me arremessa para todos os meus outros endereços. sempre me inunda de saudades.

sigo tentando criar um lar em meus diferentes endereços. identificando idiomas, aprendendo caminhos, me agasalhando muito e indo —

indo ~

indo ~


4.

uma lista de livros, filmes e músicas que me inspiraram em toda essa jornada.

todas as imagens são clicáveis >>

"Mas agora eu me lembrava de que o mundo real era vasto e que uma quantidade enorme de esperanças e medos, de sensações e emoções, estava à espera daqueles que ousassem sair por ele afora, buscando, em meio a seus perigos, o verdadeiro conhecimento do que é a vida."

— Charlotte Brontë, em Jane Eyre