Maio de 2002.
Eu relia Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, quando o vi pela primeira vez. Ele passou por mim e, como qualquer novato, se sentou ao fundo da sala. Era difícil não prestar atenção naquele menino de cabelo bagunçado e de olhos absurdamente grandes.
Ele praticamente desaparecia sob o uniforme largo. Seu tom de pele se perdia na falta de cor da camiseta que levava o emblema da escola no lado esquerdo do peito. A gola, com costuras e detalhes em dois tons de azul, era a coisa mais visível naquela criança loira, pálida e de sorriso tímido. Não falei oi e prontamente abaixei a cabeça quando ele me olhou de volta.
Eu usava meias coloridas até os joelhos, saia plissada, sandália com glitter e pequenos apliques coloridos no cabelo. Ele usava uma bermuda larga e cheia de bolsos laterais. Eu me sentava na frente, no canto direito da sala. Ele se sentava no fundo, no canto esquerdo. Assim como eu, ele adorava as aulas de artes. Sempre demorava mais que todo mundo para entregar seus desenhos e sempre eram lindos.
Um dia, ele me ouviu falar que tinha me atrasado para a aula porque estava assistindo Hamtaro, que passava na TV Globinho. Pouco depois, me entregou um desenho da Biju. Eu pensei que fosse explodir de felicidade e acho que não conseguia parar de sorrir. No dia seguinte, eu dei para ele um álbum de figurinhas do Dragon Ball GT, que vinha de brinde após a compra de R$ 1,00 em chicletes. Ele sorriu e, até hoje, me lembro dos seus caninos pontiagudos e tortinhos. Não nos sentávamos perto e nem nos falávamos muito, mas em um intervalo ele me disse que Californication era sua música favorita e eu contei que gostava muito de By The Way.
O momento mais feliz daquela época foi quando nos escolheram como pares para a quadrilha. Eu tentei parecer desencanada e lidar com normalidade, mas a empolgação era maior que eu e, logo, o ensaio era mais esperado que o almoço. Demos as mãos, dançamos e, por pelo menos duas horas, estávamos juntos – e realmente felizes por aquilo. Dois dias depois, ele me escolheu para o seu time de queimada e, no meio da brincadeira, tropeçamos e nos chocamos. Foi a primeira vez que ficamos tão próximos.
No dia seguinte, ele mudou de escola.
Essa não foi só a minha primeira história de amor, como talvez tenha sido também a minha primeira lição do quanto as relações amorosas são efêmeras. Talvez isso tenha me ensinado, lá atrás, que no final, o que é mais precioso em qualquer coisa que envolve o sentir, é a recordação – e a faisquinha no peito que a acompanha.
(vi um relato parecido num grupo que participo, comecei a escrever, ficou grande, publiquei).
Ai que delícia de história, fiquei com as cenas na cabeça enqto lia seu texto…. 🙂 Saudades da adolescência… 🙂
Que lindo, Mi! Meu primeiro amor também foi com o menino que dancei quadrilha! Tenho uma foto fofa com ele até hoje!
Seus textos são sensacionais! <3
Adorei a lição tirada de uma história que poderia soar piegas ou chata. Ótimo texto. <3
Ah, esses seus textos… <3
Muito obrigada, Pri! <3
Com esse, eu não tenho foto nem nada. Talvez algum dos desenhos haha
Obrigada, Gustavo! <3
Adoro ver seus comentários por aqui!
Sua linda! ♥