Queda livre

por | out 5, 2016 | Amor | 2 Comentários

Humanos. Não basta se acharam os verdadeiros donos do universo, acreditam piamente que têm algum poder sobre os próprios sentimentos. Iludidos, criam teorias de que com a quantidade de tombos, mais discernimento ganham e, com ele, mais autoridade sobre seus próprios corações. Coitados deles, coitados de nós. Me dá pena quando escuto alguém dizendo que “não se envolve porque não vale a pena” ou que “não se apaixona”. A prepotência do ser humano é tanta que ele – eu, você, nós – acredita que tem algum tipo de controle sobre isso. Como se nós, meros mortais que procuram em mapas astrais formas de compreender o outro, tivéssemos algum poder sobre algo que é tão maior que nós mesmos. 
Mas por que eu comecei o texto com essa pequena crítica a você, ser humaninho? Porque eu cai em minha própria emboscada e, como tenho o lema de que todo golpe vira texto, cá estou compartilhando (mais) um caso da minha vida. Não vou dizer que esse compartilhamento é para que você não cometa o mesmo erro pois esse texto fala justamente sobre isso: se for pra errar, você vai errar mesmo se for a pessoa mais analítica do planeta. 
O que não é pra ser, amiguinho, não será. 

Há um tempo em que eu vesti a fantasia de pessoa que “não se apega”. Antes de você continuar a leitura, acho importante ressaltar que, caso você ainda não me conheça, eu sou a pessoa mais sensível do mundo e, consequentemente, eu crio laços muito facilmente. Desde o início da minha existência, digo, do blog, eu culpo essa intensidade e facilidade em sentir à minha lua em Peixes e isso me dá um certo conforto. Hoje em dia é mais fácil atribuir nossas falhas aos astros, né? Enfim, depois de algumas chapuletadas – amo essa palavra que minha mãe usa insistentemente em nossas conversas – eu consegui criar uma pseudo-resistência às paixões imediatas. Passei a ser uma fiel adepta das relações líquidas e fugia de qualquer profundidade. Ao primeiro sinal de envolvimento, eu realmente saia fora. Para mim e para meus amigos que acompanhavam tudo isso de perto, sempre dei a desculpa de que “Eu supero rápido. Os problemas não aconteceram, mas podem acontecer e prefiro não correr o risco”. Com isso, acabei me sabotando algumas vezes e me identifiquei mais do que deveria com esse texto incrível aqui. 

Com todo esse cuidado, muros erguidos e guarda posta, eu afastei muita gente legal pelo simples medo de me apaixonar sozinha. Veja só, o receio de me envolver antes que a outra pessoa era maior que o próprio interesse e o medo de fazer algo que pudesse estragar aquilo fazia com que eu simplesmente me afastasse. Por várias vezes o medo de estragar tudo fazia com que, veja só, eu estragasse tudo. Paguei de insensível – logo eu! -, de grossa e de egoísta, mas tudo isso foi uma espécie de autoproteção mal executada. E assim estava levando até que eu, finalmente, me vi em uma situação em que, aparentemente, eu poderia mudar esse quadro. Uma situação em que eu poderia sair da minha zona de conforto e acampanar em um lugar desconhecido, mas que segundo o meu estudo, me apresentava uma certa segurança. 

Analisei todo o terreno. Apalpei a terra, cavei um pouquinho, observei o que era florido e o que era árido. O solo era fértil, firme e algumas áreas apresentavam a solidez que eu procurava há algum tempo. Decidi acampar ali, afinal, parecia seguro e eu tinha me certificado disso. Só que não era seguro, não. O tempo fechou e transformou toda aquela terra boa em lama. Mas não tinha culpado, certo ou errado ou qualquer coisa que possa ser usada como justificativa. O que aconteceu foi que o clima mudou e a chuvinha fina virou tempestade. 
Timing errado. 
Vida que segue. 
Guardei as peças da minha barraca na minha mochila e decidi, novamente, me esconder atrás do muro e da guarda mais eficiente que a da rainha da Inglaterra. Junto com as peças da barraca, levei na bagagem a lição de que, quando o assunto é coração, não adianta analisar, pensar e escolher. Nós não temos poder algum sobre o nosso sentir e é tolo pensar que podemos escolher a próxima pessoa por quem iremos nos apaixonar (ou não). É mais tolo ainda pensar que com análises baseadas em nossas próprias experiências, podemos saber o que nos fará feliz ou nos fará sofrer.

Humanos…

Por mais que seja reconfortante pensar que podemos, sim, saber o que vem pela frente e evitar nos machucar, eu preciso te dizer que você não tem poder algum sobre isso. Eu sei, posso parecer dura, mas é verdade. Quem dera termos controle e poder escolher quando gostar ou se afastar! Se isso fosse possível, não existiriam corações quebrados e, muito provavelmente, nossas músicas favoritas nem existiriam, afinal, nada mais inspirador que um coração partido. Já imaginou sua vida sem um álbum do John Mayer? Pois é! 
Sentir é estar em queda livre: você até prevê as emoções e sente as direções para qual está sendo jogado, mas nada do que fizer pode mudar o trajeto. Não tem como controlar a velocidade ou saber quando virá a queda. Você sabe que não tem como ter controle sobre aquilo, mas se agarra na menor possibilidade que encontra, afinal, o controle traz conforto. 
Só que “control is an illusion”. 
Já aprendemos em Mr. Robot.

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2 Comentários

  1. Walisson de Sousa

    "Amor só é amor se houver sofrimento", há bastante tempo eu bani esse tipo de pensamento para com as minhas questões afetivas. Existe a questão do impulso, e é claro, a gente não controla os sentimentos.

    Pegue suas plantinhas, coloque sua mochila nas costas e reconstrua o chão em que você pisa. Amor que é amor não machuca, ele (re)constrói as feridas passadas.

    Responder

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