Aqui – ou hoje, talvez essa questão seja mais temporal do que demográfica – as pessoas se entregam no primeiro encontro. E não estou falando de sexo, não. Elas se curtem de verdade. Pega na mão, diz o quanto curtiu o seu novo penteado. Elogia, fala que estava ansioso pelo encontro. Abraça, beija, faz social com seus amigos, quando e se necessário. São relacionamentos sérios que duram uma noite – e está tudo bem. No começo você estranha, principalmente se for acostumada com relacionamentos longos em que a intensidade é vivenciada gradativamente, mas depois, se vê entorpecida com toda essa velocidade. Passa a amar em uma noite e deixa ir quando o Sol surge. Guarda o abraço e o cheiro e, ao mesmo tempo em que esquece do perfume amadeirado do seu amor eterno de um dia, sente-se pronta para uma nova história.
Os amores eternos de um dia são verdadeiros, apesar de efêmeros. Mas o que não é efêmero nessa vida, não é mesmo? Nessas histórias, sente-se apenas o sabor doce das descobertas e do prazer pela companhia; aprecia-se cada particularidade do momento porque você sabe que aquilo pode acabar a qualquer segundo. Aproveita o agridoce de não saber o que vem depois –
e se vem um depois.
Se joga. Ama.
E ama de verdade.
Não precisa lidar com os dias chuvosos.
É só sol e tempo aberto.
Mas, às vezes, a gente cansa de ter verão o ano todo.
E eu acho que cansei.
Eu amei muito, nesse tempo. Me apaixonei perdidamente a cada semana, mas acho que cansei do clima ensolarado. Talvez eu queira apreciar a chuva da janela e colocar duas meias antes de dormir, por causa do frio. Quero me lembrar de como é um tempo fechado e como é acordar com as costas doendo depois de dividir a cama por mais de três noites.
Acho que não quero mais recomeços.
Só quero que, por um tempo, as coisas não tenham um fim.
Pelo menos por enquanto.
Que texto incrível, Mih. Pude sentir cada palavra, juro!
UAL! Profundo, sincero.
Amei as palavras e a descrição tão exata do que muito acontece hoje em dia. Parabéns, Mi!