Sobre a ansiedade

por | mar 11, 2017 | Pessoal | 1 Comentário

A ansiedade é um negócio traiçoeiro, mesmo, né? Em um segundo está tudo bem: você está se arrumando para encontrar com seus amigos naquele show que você espera há meses, está finalizando a maquiagem e até tá se achando linda, na frente do espelho. A saia tá bonita, a blusa bem passada, o cabelo colaborou e dessa vez você finalmente acertou o delineado gatinho. Dá um sorrisinho confiante, olha o celular, vê as horas e pronto, ela aparece. Assim mesmo, sem gatilho, sem convite. Ela só vem, se instala, coloca o pé na mesa e diz com um tom de voz afrontoso: “Você achou mesmo que iria sem mim?”. 
Tem dias em que a gente até bufa, coloca ela do lado e segue para o compromisso, apenas tentando ignorar sua presença e seus gritos no ouvido, contestando a escolha do destino, da roupa, do cabelo; tem vezes em que a gente simplesmente se deixa levar por ela, cancela tudo, deita na cama e sente a infeliz sentando em cima do nosso peito. Em outros, a gente simplesmente entrega o jogo. “Eu desisto”, a gente diz entre uma lágrima e um nó na garganta. 
Ela gosta de jogar, essa cretina. Ela cansa de brincar com a gente e some, por um tempo. Ok, às vezes você até precisa de um comprimido ou de trocar ideia com um cara que te cobra por hora, mas depois que ela faz um recesso, você realmente acredita que essa visita indesejável foi embora e começa a tocar a vida. Faz planos, dá start em projetos, se matricula em uma aula de dança e até marca um date. Mas aí, do nada, ela volta com um sorriso debochado e mais forte que nunca. Ela muda seu rosto e sua forma de agir, tal qual um metamorfo. A figura muda, mas é a mesmíssima coisa. Às vezes na forma de um texto que você deveria fazer, outras como um lugar que você adorava. Ela é multifacetada, a infeliz. 
A ansiedade é complicada porque a gente nunca sabe como ela vem. Em um minuto ela te leva ao ápice da agitação e no outro, suga sua vontade de formular uma frase, sair da cadeira e trocar o canal. Faz coisas básicas, como responder uma mensagem, ser uma verdadeira prova de resistência; transforma a espera em um verdadeiro martírio. A ansiedade te coloca numa montanha-russa sem nenhum cinto de segurança, brinca com picos. Sabe a expressão “do céu ao inferno”? Provavelmente foi inventada por uma pessoa que conviveu com essa maldita. 
Em uma entrevista, J.K. Rowling disse que criou os Dementadores a partir de sua depressão, numa perfeita analogia à doença que suga a sua felicidade e vontade de viver. Se eu pudesse trocar uma ideia com ela, perguntaria se o Bicho Papão poderia representar a ansiedade, já que ele sempre tem a forma daquilo que nos dá mais medo e nos perturba até conseguirmos parar tudo, lembrar da nossa memória mais feliz e tentar afastar todo aquele pavor. 
Como faz para o Expecto Patronum não ser, na verdade, um antidepressivo tarja preta, e a solução para acabar com essa criatura ser o nosso bichinho favorito saindo de uma varinha de forma luminosa?

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1 Comentário

  1. Anônimo

    Sobre esse tipo de sentimento, talvez a pior sensação, pelo menos no meu caso,é estar consciente de que está acontecendo. Pq em certas ocasiões, e ai falando de qualquer sentimento, nós primeiramente sentimos pra só depois nos percebermos imersos nele, com ansiedade não, eu sei q estou sentindo, mas incapaz de controlar, é tipo biológico, eu não controlo uma dor de cabeça, nem ansiedade. E lutar contra ela é tipo lutar com o garoto mais alto, q só coloca a mão na sua cabeça e seus braços não o alcançam, sabe? Talvez o memino q exita em mim convoque nossos heróis pra combate-la, talvez o adulto diga pra ela algo do tipo:Olha, se é pra ficar aqui, pega uma vassoura e faz algo de útil.PS: Eu prefiro os Heróis. VLW!

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