(Meus) cancerianos

por | jul 16, 2017 | Pessoal | 2 Comentários

O primeiro era felicidade e gargalhada. Não importava muito o motivo, sempre acabávamos rindo. Rindo alto, daquele jeito nenhum pouco sensual como os nossos livros favoritos descreviam sorrisos – mas de uma forma altamente contagiante. A barriga doía e precisávamos nos inclinar para conseguir lidar com a força daquele riso.
O segundo era reflexão. Nossas conversas regadas a boas cervejas sempre me traziam conclusões às quais eu jamais chegaria sozinha. Pareciam óbvias demais, depois de ditas por ele. Sempre me apresentou serenidade e cuidado. Inclusive, ele tinha essa mania de cuidar das pessoas que se aproximavam dele e comigo não foi diferente. Sorte a minha.
A terceira era companheirismo. Bom ou ruim, com sorriso ou dor no peito, ela estava lá para tentar me lembrar de quem eu era e o que eu merecia. Ao mesmo tempo em que lidava com suas próprias tempestades, me lembrava sempre de levar um guarda-chuva na mochila. Me fazia feliz com apenas duas palavras e compartilhava dos mesmos sonhos que eu.
Os três pertencem às artes.
O primeiro se expressa por desenhos, cores e traços que representam pessoas, histórias e sentimentos. Colore a vida, pincela os dias.
O segundo faz da música sua voz. Pode não falar muito sobre o sentir, mas consegue escolher e fazer músicas que o fazem com perfeição – e talvez seus arranjos digam por ele, também.
A terceira tem afinidade com as palavras. Faz do texto sua extensão e respiro.
Essas três pessoas só tinham duas coisas em comum, além do pertencimento à cultura:
o signo e a posição de “melhor amigo”.
Com o primeiro, aprendi que eu era grande demais para alguns lugares – e que eu poderia ser o que eu quisesse. Ele me mostrou que qualquer meta (ou sonho) poderia ser possível desde que eu me propusesse e concretizá-lo. Me ensinou o peso das decisões e mais um significado para a palavra família.
Com o segundo, aprendi que eu realmente aceitava o amor que eu achava merecer e que eu merecia muito mais (mesmo). Me ensinou a analisar pessoas e situações de um jeito mais real e menos fantasioso, o que me fez crescer emocionalmente em vários sentidos. Sem querer, me ensinou que tudo acontece por um motivo, quando apareceu na minha vida depois de uma das fases mais difíceis dela.
Com a terceira aprendi – e aprendo – que quanto mais sólida a amizade, por mais provas ela passa. Nos tratamos como irmãs, desde a cumplicidade até as brigas pela bagunça. Aprendemos que as diferenças são poucas se comparadas com a parceria desenvolvida ao longo dos anos, e que distância não é nada. Me ensina diariamente que é possível ter uma força extrema ao mesmo tempo em que dá o mais bonito dos sorrisos.
Com ambos, aprendi que assim como os caranguejos, a gente pode brincar tranquilamente com a imprecisão das marés se lembrarmos da importância de fazer morada em terra firme. Em nossas longas conversas, me lembram que as águas podem nos levar pra onde elas quiserem e, por isso, é fundamental não apenas aprender a nadar, mas mergulhar.
Não existem águas rasas quando fala-se de cancerianos. 
Eles me mostram que nessa imensidão toda (da vida, das águas, das pessoas) e com tantos medos quanto criaturas marinhas, existem poucas certezas sobre os dias que virão. Fazem questão de me lembrar que, assim como o mar, a vida é imprevisível e não dá para adivinhar o que virá pela frente – e que por isso é imprescindível ter um ponto de orientação na hora de seguir o caminho.
Tanto faz se é farol ou constelação.  Até porque, no meu caso, são pessoas.
E são três.

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2 Comentários

  1. Bruna Guedes

    Que coisa linda de se ler. Ótimo pra esse dia friozinho que tô vivendo <3
    beijo
    Neoguedes

    Responder
  2. Michelli B.E.

    Ai que fofo.
    Sim, me acho muito profunda, vai ver carangueijinhos gostam da profundidade do mar… rsss

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