Já tem um tempo em que venho pensando sobre pertencimento.
Sobre se sentir em casa.
Sobre fazer morada. Sobre fazer parte.
Sobre pertencer.
Comecei a pensar no quanto o verbo pertencer pode soar pesado.
E um pouco traiçoeiro, se analisado isoladamente.
Pertencer.
Ilude com a similaridade com a palavra perto.
Depois brinca com o Ser.
Pertencer.
O significado é tão pesado quanto o jogo de sílabas.
Começa com propriedade.
Termina com fazer parte.
A interpretação positiva ou negativa da palavra é subjetiva.
Às vezes, tudo o que alguém quer na vida é fazer parte.
É pertencer.
A alguém. A um grupo. A uma filosofia.
Em outras, o problema da vida de alguém é justamente pertencer.
A alguém. A um grupo. A uma filosofia.
Falta a identificação.
Sobram as amarras.
Fica o pertencimento.
Em alguns casos, o terror está na falta dele.
Do pertencimento.
Dos significados.
Da segurança.
Da sensação de estar em casa.
É mais ou menos o meu caso.
Tenho problema com os dois significados.
Propriedade e fazer parte.
Sinto que não pertenço.
A ninguém. A nenhum grupo. A nenhuma filosofia.
A nenhum lugar, principalmente.
O que poderia ser sinônimo de leveza e liberdade, aprisiona.
Amedronta.
Cria muros.
A gente não se sente em casa nunca.
Não consegue fazer morada.
Não consegue só ficar. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que fugimos dele,
queremos encontrá-lo.
O pertencimento.
Procuramos significados,
mas fechamos os olhos quando eles se mostram visíveis.
A gente quer fazer parte.
Quer se deixar ser casa.
Quer fazer morada.
Em algum lugar.
Em alguém.
Mas é difícil.
Porque para pertencer, é preciso ficar.
E como ficar, se não sentimos que pertencemos a este lugar?
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texto velho, esquecido há meses por aqui, mas que na falta de post novo, serve pra lembrar que o blog existe 🙂
Estou passando por essa situação atualmente. É angustiante. Texto ótimo pra refletir….
Pertencer ou não pertencer? Eis a questão. Trocadilhos infames a parte, ótimo texto.
Nossa vei, como escreve bem.
Pertencer é algo que não consigo encaixar na minha vida. Eu simplesmente não pertenço a lugar nenhum, e quando finalmente acabo vencida que comecei a pertencer a algum lugar, eu não consigo ficar. Eu sinto que não me encaixo mais com o passar dos dias. Talvez isso seja pelo fato de eu ser geminiana, ou não. Talvez eu simplesmente não tenha nascido para pertecer a algum lugar mesmo. Ou, a alguma pessoa. O seu texto me descreve bastante, parabéns pela ótima escrita e ótimo texto.
http://www.memorizeis.blogspot.com
Eu já parei para pensar nisso e olha, eu só cheguei à uma conclusão: eu definitivamente não pertenço à nenhum espaço. Eu também não cabo em nenhum coração, eu não cabo nesse limitado mundo, nessa limitada existência. Mas eu cabo dentro de mim, eu cabo dentro das minha memórias. O meu coração é a minha casa, mesmo que o mundo o capitalismo tente destruí-lo, ele ficará de pé, assim como as minhas memórias.
Texto incrível, autora incrível!!
Que texto incrível!! Que escritora incrível!!