Sobre o feed perfeito no Instagram

por | ago 20, 2016 | Pessoal | 32 Comentários

Esses dias a Carol Rocha postou no Twitter dela, com uma hashtag engraçadinha que tinha como intuito compartilhar situações vergonhosas e reais, que uma dessas suas cenas era quando estava passando a compra no caixa e, conforme o valor ia aparecendo na telinha, ia analisando quais itens ficariam no supermercado. Dei risada, achei engraçado e me senti, por poucos segundos, um pouco mais leve. Ler que alguém “famoso” na internet também passava por esse tipo de “pequenos perrengues cotidianos” me deixou um pouco mais confortável. Mais que isso, me tirou um pouquinho dessa cobrança eterna em que vivemos: a de ser perfeito. 

Eu vou me usar como centro neste texto, mas tenho quase certeza que você vai se identificar, porque todo mundo com quem eu converso sobre esse assunto me diz “nossa, eu também” no final do meu devaneio, então lá vai: eu vivo 100% do tempo pressionada por mim mesma. Ninguém está vendo, mas eu preciso fazer o arroz perfeito, afinal, já tenho 24 anos e moro sozinha há 8 meses. Eu preciso ter o quarto perfeito. Eu preciso fazer o trabalho perfeito. Preciso ter o cabelo, a roupa, a maquiagem perfeita. Eu preciso ter o fucking feed do Instagram perfeito – e o que antes era uma coleção de momentos felizes, virou mais uma vitrine que me cobra, o tempo todo, para ser perfeita. O meu aplicativo favorito virou mais uma ferramenta de pressão, afinal, eu preciso ter coisas bonitas para serem fotografas e manter toda uma linha editorial. Que matinho do condomínio, o quê! Eu preciso é montar uma decoração escandinava para fortalecer o conceito minimalista das minhas fotografias, senão, não presta.  

Deu pra entender o drama?

Com toda essa cobrança, vem uma frustração que não acaba nunca porque nada, nada das coisas citadas anteriormente, são ou ficam perfeitas. Meus textos não são perfeitos, minhas fotos poderiam ser melhores, meu quarto só tem uma cama e eu preferi ir mais vezes à Araçatuba a decorá-lo. Minhas roupas são de fast fashion e a colega da balada tá sempre melhor vestida, mesmo. Para mim, tudo o que eu faço é “ok” e nada é realmente bom. Quando recebo elogios, não sei não responder com um “Ah, é okayzão, né?” ou apontar um defeito que faça com que eu desmereça aquelas palavras legais. 

A cobrança é tanta e tão intensa que a gente não se sente merecedora de nenhum reconhecimento. 

Esses dias, uma fotógrafa que eu adoro o trabalho e que eu acho incrível – de verdade -, postou no Facebook essa mesma coisa: o fato de não considerar o seu próprio trabalho, digno de tantos elogios. Ela contou no post que a cada comentário legal, mais ela enxerga defeitos ou coisas que poderiam ser melhoradas em suas fotografias e ensaios. Quando li aquilo, tive duas ações: a de dizer que ela estava louca, porque seu trabalho era impecável, e a de dizer que a entendia. 

Com aquele post, me fiz algumas perguntas que estão me atormentando desde então. Por que não conseguimos apreciar o que fazemos? Por que toda essa compulsão pela perfeição? E, principalmente:

quando é que vamos aceitar que podemos – e vamos! – fracassar algumas vezes?

A nossa geração – lá vem o conceito horrível de gerações, que eu odeio, mas vivo usando – é a geração da ansiedade, dos problemas psicológicos, da popularização do ansiolítico e da fobia social. Não é nenhum pouco normal todos os seus amigos concordarem que estão sofrendo com transtornos de ansiedade e não é preciso um diploma em psicologia para entender porque isso tá rolando. Nós vivemos sob pressão o tempo inteiro – e ela não vem da família ou do mercado, não. A pressão que mais dói é a que vem de nós mesmos. Falta o ar, falta calma, falta sobriedade mas, mais que qualquer outra coisa, falta humanidade de nós para conosco. 

Somos tão compassivos com situações que não precisam, mas quando falamos de nós mesmos, somos irredutíveis. Se um amigo nos diz que “Dormiu demais no sábado e não conseguiu produzir nada para aquele freela criativo”, somos os primeiros a dizer que “Ei, está tudo bem, você estava mesmo precisando”. Quando é com a gente, o pensamento mais tranquilo é que “Você é uma irresponsável inútil”. Percebem a diferença?

Às vezes tenho a sensação de viver num estresse tão grande que desaprendi a respirar. Quando paro para inspirar e expirar devagarinho eu sempre me pergunto “como é que eu estava vivendo esse tempo todo?”. Sabe a sensação de estar nadando nadando nadando e finalmente colocar a cabeça para fora d’água e dar aquela respirada funda? É assim que me sinto quando paro tudo para ouvir uma música calma e focar na minha respiração. Ou quando vejo que alguém também está passando pelas mesmas coisas e perrengues que eu. 

Hoje em dia nós dedicamos tanto tempo para construir vidas perfeitas na internet e para superar nossas próprias expectativas e cobranças que ver alguém “grande” assumindo que tem os mesmos problemas, medos e dias ruins, é mais do que empático ou reconfortante.

É como um respiro.

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32 Comentários

  1. Anônimo

    Posso estar enganado, mas lendo o texto, tenho quase certeza q vc o escreveu com um saco de papel na boca, sabe, pra respirar, e na ultima enchida, bateu com a mão e estourou, pq o ritmo desse texto foi frenético. o/

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  2. letras e costuras

    ai! bem isso mesmo, a gente procura ser perfeito em tu-do na vida. e, isso do instagram, maior verdade. e quando encontro uns perfis que fazem tudo combinando nas cores? fico WHAT?! hahah
    obs: tô quase na mesma idade e nunca consigo fazer um arroz digno.
    beijos =***

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  3. Ana Cristina

    Adorei o teu texto e te entendo perfeitamente! Coincidência, fiz um ano de blog na sexta passada e comentei algo assim parecido: eu não conseguia dormir depois de escrever os primeiros posts, pq ficava pensando o que as pessoas iriam achar do meu texto. Eu revisava cada post um trilhão de vezes, e ainda sim continuava achando apenas ok. Desencanei bastante e agora já consigo até dormir, huhahuha. Mas continuo achando tudo só bem ok. Beijos

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  4. Unknown

    meu Deus, me senti abraçada e compreendida. Esse seu texto foi uma respirada pra mim, obrigada!

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  5. Lilah

    Todo mundo tá sendo um tipo de Monica querendo derrotar ela mesma no dia de Ação de Graças sauhsuahsah Não é ruim querer superar a si mesmo, mas é ruim quando não sabemos a razão para fazê-lo, sabe? Quando a gente se cobra pra ser melhor APENAS para ser o melhor e não porque isso nos fará bem ou nos deixará mais felizes, aí sim há um problema. Eu sempre tô passando por momentos assim em que pareço sufocada e às vezes me sinto um fracasso total, mas aí eu paro e penso "no que estou errando?" e depois penso "estou mesmo errando?". Eu percebi que se me cobro demais, eu passo a ficar triste, então digamos que eu me cobro de uma forma amigável, de uma maneira que me incentive a aprender a lidar comigo mesma e a não surtar com qualquer deslize – menos com relação ao feed do instagram, isso aí me deixa louca mesmo lol

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  6. Ariadne Rodrigues

    Como me identifiquei com cada sensação sua, eu sempre me cobrei muito, mas acho que isso se intensificou quando decidi blogar, parece que a pressão de ser perfeito ampliou simplesmente por que me exponho agora a um número maior de pessoas. E é muito engraçado a ideia de buscar o próprio conforto em outra pessoa, eu não tinha parado pra refletir isso. Excelente postagem, parabéns ♡

    Ariadne
    http://www.devoltaaoretro.com.br

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  7. Mundobrel

    Muito interessante esse texto. Deu até uma aliviada na consciência depois que eu li.

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  8. Lugar Nenhum

    Eu adorei o texto e me identifiquei demais! Eu sou uma pessoa que vive em constante cobrança, vivo achando que tudo o que faço é errado ou de menos, que não sou bonito o suficiente, que não faço meu trabalho bom o suficiente, que tem sempre alguém melhor que eu pra vir me botar pra baixo, mas o que eu não perecebo é que sou EU MESMO que estou me deprimindo, e que isso, muitas vezes, me impede de valorizar aquilo que faço de bom. Sucesso Mih, vc arrasa!

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  9. maki

    acho impossível alguém não ter se identificado com esse texto em um algum momento, né? é bem isso mesmo, a pior pressão é a que a gente coloca na própria cabeça, não tem nada a ver com os outros. aí a questão é a gente dar um passo pra trás, respirar fundo e repensar as prioridades, a nossa meta e tentar de novo, né?

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  10. Adriana

    A minha mãe fala (ela tem mais de 60) que é muito difícil ser jovem nos dias de hoje.

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  11. Jéssica Fricati

    Que texto incrível Mih! Primeira vez por aqui, e é certo que vou voltar 🙂
    Obrigada por me ajudar a dar uma pausa e respirar também. Abraço!

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  12. Michele Contel

    HAHAHA foi mais ou menos isso, mesmo! Foi escrito no meio de uma crise de ansiedade, então…

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  13. Michele Contel

    Nossa, siiiim! A gente desenvolve essa loucura por cores combinando, fundos, aaaaargh! E, olha, sobre o arroz: acho que ele é e sempre será um reflexo comestível do meu humor. Geralmente, tá bem mais ou menos hahhah

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  14. Michele Contel

    Caramba, Ana! Pior que eu também te entendo. Tem post que eu leio e releio mil vezes, passam erros bestas e eu fico me julgando muito, depois. Nosso blog era pra nos deixar felizes, não era? Mas to tentando ficar mais tranquila – espero que você também consiga 🙂

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  15. Michele Contel

    "Todo mundo tá sendo um tipo de Monica querendo derrotar ela mesma no dia de Ação de Graças" HAHAHAH meu, sim! Tá todo mundo sendo muito Monica na vida e, calma, né? A gente precisa entender que tá ok errar – e que somos humanas. To me desprendendo dessas coisas, espero que consiga 🙂 – e você tb!

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  16. Michele Contel

    Não está sozinha, Yas! E sinta-se abraçada <3

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  17. Michele Contel

    Acho que, quando vemos que outra pessoa "está na mesma", a gente se sente mais humano e sente como se fosse mais "aceitável" estar passando por coisas não tão glamourosas, né? E muito obrigada, Ariadne! <3

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  18. Michele Contel

    Que bom que ajudei, de alguma forma haha 🙂 ♥

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  19. Michele Contel

    Seu lindo! Espero que passe por isso logo. Você é ótimo! ♥

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  20. Michele Contel

    Exatamente, Maki! E entender que tá ok errar – somos humanos ainda, não é mesmo?

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  21. Michele Contel

    Que bom que vai voltar, Jessica! E que bom que te ajudei, de alguma forma. ♥ ♥

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  22. Barbara

    Que post maravilhoso!
    Vou mencioná-lo no meu blog ♥

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  23. Thally

    Claro que a gente acha lindo esses instas organizadinhos, é lindo de se ver, mas quando a gente para pra pensar na produção dessas fotos, além de te colocar uma obrigação a mais na vida, eles acabam também excluindo tanta foto legal só pq "não combina" né?

    E miga, só uma dica: Aumenta um pouco a fonte do texto do blog, eu achei bem difícil de ler por causa do tamanho da fonte. Beijos!

    Thally
    Bits 'N' Bobs

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  24. Michelli B.E.

    Entendo muito. Sou minha pior inimiga e sempre tento fazer tudo maravilhosamente perfeito. Isso é terrível. Nisso o desenho me ajuda, me solta e me faz aceitar os erros =D
    Meu feed do Insta? Só sei sentir =D

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  25. Anônimo

    Tenho ficado muito assim, sabe. Muitas vezes ficava agoniada com o tempo passando. Agoniada com a própria vida em si. E cheguei num ponto em que eu tive que parar tudo na minha vida pra cuidar de mim mesma. Me descobrir de novo porque nem me conheço mais. Estou melhorando aos poucos, com muita oração e muita calma. Sei que muitas pessoas estão passando por tudo isso também e só o que posso dizer, por enquanto, é: parem, respirem, não deixem que isso tome conta de vocês. Porque eu deixei totalmente e fui parar no pior lugar ever. Cuidem-se, orem, fiquem com a família/amigos e se amem e amem quem está próximo de vocês. <3

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  26. Unknown

    Irretocável. Antigamente, quando alguém dizia para o outro "respira" era só força da expressão. Hoje em dia precisamos respirar, literalmente. Inspirar e expirar, e com calma.

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  27. A Bela, não a Fera

    Esses dias falaram que meu instagram seria lindo por eu estar na Finlândia, se eu organizasse-o. E lá foi eu dividir no instagram a revolta/frustração: eu tiro fotos pra salvar os momentos, não penso se será em posição retrato ou paisagem, se vou tirar foto de um pacote de pão só pra combinar com as outras cores. Eu não tenho tempo de parar e ficar pensando uma semana antes o que vou postar, se combina ou não. Muito menos tempo de ficar esculachando os outros.
    Tudo que tenha o nome 'perfeito' na sequencia, sendo relacionado á midia social, eu CAGO. HUSIHAUIHSUIHAUIHSUISH
    Amei seu texto!
    A Bela, não a Fera | Youtube A Bela, não a Fera | Fã Page no Facebook

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