Sobre todos os recomeços

por | fev 22, 2023 | Pessoal | 0 Comentários

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Acho que estava levando a newsletter muito a sério. Meu último texto aqui foi sobre a crise dos 30 e ele tinha uma pegada de ensaio que, apesar de boa, me inibia de simplesmente escrever qualquer coisa. Quando eu abria um novo arquivo, pensava que precisava criar algo naquela mesma pegada e, incapaz de pesquisar a raiz da minha queixa atual para poder embasar a reclamação que estava a caminho, fechava o documento. Senti uma saudade imensa de poder escrever sem me preocupar com nada, de escrever só por escrever. Assim, senti uma saudade imensa dos blogs e da liberdade incomparável que ele nos dava.

Nosso blog era literalmente o nosso espaço na internet, então podíamos falar e fazer absolutamente tudo, da ida à padaria ao último livro do, sei lá, o barbudo que fala mal de mulher. Das intermitências de uma vida fitness ao último casinho do Tinder. Da vida real cheia de buracos ao último desfile da Semana de Moda em Paris, enfim. Era leve. Nosso, sabe? A gente fazia um layout com a nossa cara, colocava uns gifs bonitinhos na sidebar, fazia piadinhas de direitos autorais no footer… Ai ai, era uma delícia receber pessoas queridas naquele espaço. Vocês lembram?

Gif retirado de um dos meus primeiros blogs da vida

Nessas de ficar relembrando esse passado tão gostoso, me disseram que o Substack é meio que o retorno dos blogs. Eu discordo – e vou explicar o porquê.

Aqui na newsletter eu fico (ficava!) meio inibida porque eu chego no espaço das pessoas, então, tenho aquela sensação ambígua que sentimos ao chegar na casa de um conhecido que não é tãaaao seu amigo, por mais que você o ache um querido. Você tira os sapatos antes de entrar, senta direitinho no sofá, aceita uma água por educação (mesmo já querendo um cafezinho) e vai sentindo a atmosfera antes de dizer à que veio. Aqui eu sinto que tenho que dar contexto ao que digo, embasar minhas teorias, escrever direitinho e finalizar com impacto. Cê não sente meio isso?

Daí eu fico triste, porque escrever no meu blog nunca foi um trabalho, sempre foi prazer. Falei disso na terapia, inclusive. Antes de virar escritora/redatora/freelancer eu escrevia no meu blog como passatempo, como diversão, mesmo! Era tudo tão despretensioso que parecia um eterno papo com os amigos na mesa da sorveteria (não era bar porque naquela época eu não bebia) e eu ficava realmente feliz com as coisas que eu postava. Hoje não dá pra dizer o mesmo porque escrever virou o meu trabalho e querer atingir a excelência em toda e qualquer frase que eu escreva é enlouquecedor, além de desgastante.

Por isso, decidi que vou recomeçar minha newsletterE ela vai ter a informalidade do blog. É isso aí, cês me deem licença na casa de vocês porque eu vou passar um cafezinho e colocar os pés no sofá, tá?

E agora que vocês foram devidamente apresentados ao rebranding do meu Substack (kkk) vou começar o meu texto banal, falando sobre a minha vida. E quer mais banalidade do que falar sobre recomeços?

*assopra o cafezinho*

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MarIa Clara (aka minha filha) fez 4 meses e está um tiquinho mais independente, o que me deixa um pouquinho mais independente também, então voltei a começar a fazer exercícios. Sim, apesar de estranha, a frase está correta. Eu explico! Nunca me exercitei por mais de 3 meses. Já fiz academia, tentei corrida, fiz pilates, fit dance, natação e nunca passei dos 3 meses – a minha falta de vergonha na cara é quase cabalística – ou seja, eu estou sempre começando a me exercitar. Como eu engordei 20kg na gestação e nenhuma peça de roupa do meu armário me cabia, decidi que era chegada a hora de voltar a começar a me exercitar.

Comecei com 2 dias por semana no spinning. A seita da Velocity é real e além de divertidíssima, 1) eu não odeio e sou quase boa 2) tem uma unidade literalmente na esquina de casa. Agora, também, voltei a fazer natação, só que em vez de 2x por semana, como fazia ano passado, 1 vez só. A natação eu estou fazendo porque não sei nadar, mas isso vai ser assunto pra um próximo post (sobre nos sentirmos velhas para começar coisas que todo mundo já sabe). Ao todo, faço exercícios quase 3x por semana (porque óbvio que eu desmarco a bike uma vez ou outra). Sim, estou esperando aplausos.

Ok, meu humor melhorou e a pele ganhou um glow que não veio do skincare, mas mais que tudo isso, eu ganhei 50 minutos de paz. Essa volta aos exercícios me dá uma hora sendo Michele só Michele. Não a Michele-mamãe, a Michele-tetê (tetê é peito, na linguagem de pais), a Michele-esposa, a Michele-ouvinte. Sou apenas eu, ali, pedalando desengonçada ou batendo pés desesperadamente na piscina. Juro, que delícia é ouvir a minha própria voz narrando meus pensamentos, mesmo que eles sejam gritos abafados de “meu deus que nojo eu estou engolindo água de piscina de academia” ou “Jesus amado o meu coração vai sair pela minha boca”. Se a saúde não era motivo suficiente para me manter ativa, com certeza a vaidade e a necessidade de 50 minutos de completo silêncio e solitude serão. Hoje já fui na natação e acabei de marcar minha aulinha na Velocity e congelar minhas bananas para o café da manhã de amanhã. Mais saudável que eu????

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Além dos exercícios, também voltei pra terapia. Dessa vez, quero fazer certinho, sem cancelar consultas e/ou reforçar meu comportamento de esquiva. Percebi que eu não evoluía e meus problemas não desapareciam (kkk) porque eu basicamente desabafava sobre o caso da vez e ficava desmarcando consulta até surgir outra situação que necessitasse de um desabafo. Logo, não tinha como mapear minhas fraquezas, minhas evoluções e eu me sentia estacada – que coisa, não? Daí como eu entrei nessa onda de recomeços – e de momentos de 50 minutos pra ser apenas a Michele – a terapia ganhou um grande destaque. Eu que sempre detestei essa lenga-lenga de falar sobre meus sentimentos estou amando poder falar ininterruptamente sobre mim.

Que delícia que é falar sem fazer vozinha de mãe, viu?

Eu estou…

  • Lendo: Só Garotos – Patti Smith. Ai gente, eu sei que todas as minhas amigas aqui do site AMAM esse livro e eu também estava adorando, mas nossa, saiu do Chelsea acabou o babado? Não tem uma novidade? Um bafo, uma gritaria, nada? É só ela e o Robert fazendo as arte lá e tal? Tava empacada nos 50%, mas aí ontem Maria Clara me fez deitar às 20h e fiquei lendo até chegar nos 71%. Melhorou, mas puts. Foi por pouco que não abandonei, viu?
  • Vendo: Faz três semanas que João (meu marido) e eu estamos tentando terminar o primeiro episódio de The Last Of Us porque é a gente ligar a TV que a bebê acorda. Já tentamos ver no iPad também, mas acho que Maria tem algo pessoal contra a HBO. Estamos planejando terminar o S01E01 ainda essa semana. Volto em breve com atualizações.
  • Ouvindo: Ainda não entramos na fase do Mundo Bita e da Galinha Pintadinha, mas meu Daily Mix do Spotify está tomado por ruídos brancos e canções de ninar. No meio disso, inseri uns Beatles e, surpreendentemente, Maria Clara gostou. Eu detestava a Ob-La-Di, Ob-La-Da, mas depois que vi ela sorrir abertamente e soltar um gritinho quando ouviu essa, passei a considerar minha favorita do Fab4. Mãe é besta, né?
Jack Johnson também amansa a fera

Bom gente, é isso.

Na próxima eu quero falar sobre o quão infernal é fazer coisas básicas depois do 30.

Enquanto isso, bora que vamo que amanhã eu volto ao trabalho CLT e a vida vai ficar ainda mais louca.

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