Sobre ser um saco aprender as coisas depois dos 30

Bom, esse título já deixou mais que explícito o tema da reclamação desse texto. E digito isso já pensando em maneiras de burlar a minha ida à natação amanhã cedo, mas vamos devagar, como o processo de aprendizado da gente que já passou dos 30.

1.

Se você, assim como eu, não foi uma criança/adolescente privilegiada, provavelmente tem algumas defasagens em vida. Eu tenho várias: não sei nadar, meu inglês é bem precário, não tenho habilitação, nunca morei fora do País, minha alimentação é péssima, trocar a mão dos talheres ainda é um tormento, enfim, são várias as pequenas humilhações que eu passo quando percebo que não sei coisas que todo mundo ao meu redor sabe. Hoje acho graça, mas já foi um problema pesado na minha autoestima.

[Eu até tinha escrito mais 5 parágrafos sobre isso, mas apaguei. Não é esse o foco e, apesar de ter tido uma infância/adolescência muito diferente da dos meus amigos daqui de São Paulo, ainda tenho privilégios no que tange a raça, sexualidade e corpo, então, me senti meio constrangida ao ler minha própria lamentação que, apesar de válida e legítima, ainda é repleta de acessos.]

Agora, com 30 anos e estabilizada financeiramente, além de me conceder alguns pequenos luxos, estou conseguindo (bem aos pouquinhos) diminuir essas diferenças que eu tenho com pessoas do meu meio. E aprender a nadar é uma delas.

2.

Comecei a aula de natação no ano passado. Não vou negar e dizer que não fiquei constrangida porque né, na minha cabeça eu era uma cavalona aprendendo algo que as pessoas costumam saber ainda na infância. Mas era isso ou viver com esse medo de água que sempre ficava aberto em uma aba inativa do meu navegador interno, então, como diz meu digníssimo, “need to be done”. Perita em autossabotagem que sou, coloquei alguns empecilhos antes de começar a aula, de fato:

a) eu tinha que achar uma academia perto de casa; b) tinha que caber no meu orçamento e c) tinha que ter horário de manhã, antes do meu expediente. 3 coisas simples, mas que já seriam ótimos motivos para mandar um “puts, não rolou, as coisas são assim mesmo, nunca vou aprender a nadar e vida que segue”.

Mas aí eu achei uma academia a duas quadras da minha casa. Eu chego lá em 5 minutos e mexendo no celular, pra vocês terem ideia. O valor mensal é mais barato que três aulas isoladas de spinning. E por fim: tinha todos os horários possíveis.

Não contente, por algum motivo eu imaginei que “aprender a nadar depois dos 30” pudesse ser um empecilho para a academia. Perguntei cheia de receio: “aiiinnnnn entãoooooooo mas vocês dão aulas de natação básica para adultos? Eu não sei nadar mesmo, sabe como éeannnn”. E o cara respondeu como se estivesse respondendo a pergunta “a água é molhada?”:

— Mas é lógico?????

Aí não teve jeito, assinei o plano bimestral e fui.

3.

Independente de você fazer altas performances na piscina ou aprender a bater pezinho, você vai toda paramentada com maiô, óculos e touca. E aí é impossível não se olhar com aquela roupinha e falar “uau, estou indo nadar de verdade”. Acho que de alguma forma a touquinha e os óculos te empoderam – ou te escondem – porque uma vez colocados, eu desencanei completamente da vergonha que estava sentindo. Eu até queria dizer que é humilhante (contribuiria para com minha narrativa), mas nem é, porque é um exercício que te consome tanto que você nem tem tempo pra pensar no que os outros estão pensando – e convenhamos, estão todos pagando por hora, eles realmente vão ocupar seus minutos com suas respectivas performances e não observando uma pessoa boiando. E digo mais: nadar é uma delícia. Você sai quebrada da água, mas sente a ~endorfina~ durante horas.

Porém, aprender a nadar é lento. É um processo incrivelmente lento.

4.

Eu fiz dois meses ano passado, mas aí descobri que estava grávida e eu sentia muito enjoo, então, tive que parar. Voltei agora, tem três semanas. Não voltei do zero, mas percebi que ainda não sei quase nada e isso significa que ainda posso me afogar se o lugar não der pé. Reclamei com o professor: “que saco que é aprender as coisas depois dos 30, hein?” e ele falou “só é legal aprender coisas quando você é criança. E isso porque criança não tem medo de nada”. E aí me deu um pouco daquela raiva que de vez em quando eu sinto por não ter tido a mesma oportunidade que “todo mundo”. Mas passou quando ele me deu o espaguete e mandou eu ir boiando até o outro lado da piscina.

Amanhã tem aula de novo e pagamento do próximo mês.

Need to be done.

5.

Outra coisa que “todo mundo já fez” (mas aqui em São Paulo até que não tanto) é a habilitação. Eu fiz todas as aulas e até que dirijo certinho, mas aqui nessa cidade infernal eles demoram um mês entre a última aula e o exame (por questão de datas/quantidade de alunos, etc) o que significa que, quando fui fazer a prova, eu já não lembrava mais como girava a chave. Resultado: fui reprovada sem mesmo sair com o carro kkkkkkk sério. Agora, vou ter que pagar todo o processo de novo (porque já passou um ano), refazer umas aulas e fazer novamente o exame. Claro que pensei em desistir e tocar o f0da-se, mas aí tem a mudança para o Canadá e eu preciso dirigir pra buscar minha criança na escola, então, vou ter que insistir nessa palhaçada.

Volto a qualquer momento com novidades.

6.

E sim, pra quem ainda não sabe, estou de mudança para o Canadá. Era pra termos nos mudado em maio do ano passado (por isso o casamento super rápido, fofoqueiras: pra eu pegar o Visto do homem), mas aí surgiu uma Maria Clara e decidimos esperar. Até o fim do ano estaremos do outro lado das Américas – e Maria já está devidamente matriculada na sua escolinha.

Não é que agora, depois dos 30, eu finalmente vou morar fora?

Eu estou…

• Lendo: Só Garotos – Patti Smith. AINDA!!!!!!!11111 já cheguei nos 73% e eu não aguento maAaAaaAais. Infelizmente eu não CONSIGO abandonar um livro com 73% e aí fico me martirizando pensando em quantos livros eu já poderia ter lido. Mas enfim, fé no pai que na próxima newsletter eu comecei uma nova leitura.

• Vendo: Conseguimos terminar o piloto de The Last of Us!!!!!111 e não só isso, ontem assistimos ao terceiro episódio e eu morri de chorar, como esperado.
• Fiquei meio chateada que não vi nada do Oscar esse ano, mas felizinha porque o filme que papou tudo (o Tudo em Todo Lugar etc) foi o último que vi no cinema, antes da bebê nascer. Senti que a FOMO deu uma suavizada porque pensei “to vendo menos coisas, mas to vendo boas coisas”. E agora minha era é menos é mais, tanto que até ajustei minha meta no Goodreads para apenas 12 livros. hehe

• Ouvindo: Entramos na fase Mundo Bita, família!!! E eu vou te contar: o álbum “Dorme Dorme” é BIZARRO!!! Sempre que Maria está lutando contra o sono, a gente coloca esse e ela simplesmente VIRA PARA O LADO E DORME. Isso quando não pega a naninha de girafa dela pra abraçar. Lindo, perfeito, maravilhoso, SANTO MUNDO BITA.

E é isso.

Bora que vamo que logo menos tem mais.

💖

Texto originalmente publicado na minha newsletter