Sobre o amor que a gente quer e o amor que a gente deve querer

por | abr 28, 2023 | Newsletter, Relacionamento | 0 Comentários

Eu ja assisti Sex And The City inúmeras vezes. Literalmente, inúmeras. Mas me lembro quando foi que vi pela primeira vez: há quase 10 anos, quando tentava me animar depois de um término de relacionamento conturbadíssimo. Ao me identificar com a Carrie, também identificava meu ex-namorado no Mr Big. Não por ele ser interessante, charmoso e milionário (porque né 🤡), mas tal qual o supracitado, meu ex era emocionalmente indisponível. E fazia eu sentir que demandava afeto demais.

Quando assisti o episódio La Douleur Exquise, também conhecido como “aquele em que o Big conta que vai pra Paris e a Carrie joga um Big Mac nele”, eu chorei mais do que tinha chorado com qualquer filme de cachorro que morre no final. Aquele texto me acertou como uma bala e me levou a uma das maiores epifanias pós-termino que eu tive. Começa — o episódio? Minha epifania? Jamais saberemos — com ela entendendo que a base da sua relação é a insatisfação; que ela quer mais, busca mais, mas está sempre sofrendo porque não existe reciprocidade na sua intensidade.

“I was in an S&M relationship with Mr. Big. In love relationships, there is a fine line between pleasure and pain. In fact, it’s a common belief that a relationship without pain is a relationship not worth having. To some, pain implies growth. But how do we know when the growing pains stop and the “pain-pains” take over? Are we masochists or optimists, if we continue to walk that fine line? When it comes to relationships how do you know when enough is enough?” 

La Douleur Exquise

E termina com ela finalmente conseguindo terminar aquela relação que não a fazia feliz. Lembro com todos os detalhes possíveis: ela de camisola azul claro olhando o Big entrando no carro, da janela do seu apartamento, recitando a frase que me fez debulhar:

“I was free.

[Aqui eu estava morrendo de chorar]

But there was nothing exquisite about it.”

O episódio, a vida segue e depois de uma série de caras terríveis (o alcoólatra que sai pelado da casa dela, o P.A. que não tem assunto, o Justin Theroux da ejaculação precoce, o político do Golden Shower etc) conhecemos ele: Aidan Shaw, o príncipe encantado com cabelo cafona que chega como um salvador da princesa indefesa que luta contra um exército de homens bizarros. Aidan, o favorito de grande parte do fandom, o cara “com quem a Carrie deveria ter ficado”.

E agora chegamos no tema dessa newsletter – eu sei que parece que fui prolixa, mas vai fazer sentido no final – sobre os amores que a gente “deve” querer.

Vai lá fazer um café porque essa newsletter ficou enorme.

1.

Aidan é o extremo oposto do Big. Enquanto Big é refinado, Aidan é rústico. Big não quer compromisso, Aidan coloca um anel no dedo dela. Big fuma charuto, Aidan odeia o cigarro dela. Enfim, poderia passar o dia aqui dizendo que, não por acaso, foi por Aidan que Carrie se apaixonou logo depois do conturbado término com o Big. Aidan era a “correção” do Big. Tudo o que uma mulher deveria querer, certo?

Mas não a Carrie.

Ela se sente sufocada quando está com ele, entra em crise quando ele fala sobre morarem juntos. Ela usa o anel de noivado como pingente porque não consegue elaborar a ideia de que vai passar a vida com ele. Não, volta: ela literalmente se sente sufocada, quando está com ele (!) tipo… Isso não é amor. É um querer que seja amor. Entende?

Além disso(s), Aidan não tem absolutamente nada a ver com a Carrie. Hoje já somos todos adultos o suficiente pra entender que só amor não faz durar nada e que o mínimo de afinidade é imprescindível para qualquer relação. Não existe essa dos opostos se atraem e vivem felizes para sempre – quer dizer, pode até ser que se atraem, mas a convivência deve ser infernal. Mas, por ser o extremo-oposto do Big, a Carrie acredita que deve querer ficar com ele. Ela realmente se esforça pra isso.

E aí eu te pergunto: quem nunca viveu algo assim?

2.

Quando eu estava saindo da fossa desse meu término, busquei, mesmo que inconscientemente, por pessoas que fossem totalmente diferentes do meu ex-namorado. Em How I Met Your Mother (série que envelheceu como leite, mas sigo gostando), eles usam o termo “over-correction” para quando você se envolve com alguém diametralmente diferente de quem partiu seu coração. Eu fiz isso, essa over-correction. Busquei o extremo-oposto de cada coisa que eu detestava no meu ex-namorado acreditando que [então] eu seria feliz.

Ironicamente, enquanto assistia a série, eu ficava revoltada pelo fato da Carrie não querer o Aidan e insistir no Big porque o designer era, afinal, o amor que ela mereciaO que ela deveria querer. Porém, lá no fundo, eu entendia perfeitamente o porquê do fracasso da relação. Assim como eu, Carrie era muito fiel ao que o coração queria.

E como já disse Selena Gomez, “The Heart Wants What They Wants”.

3.

Carrie sabia que racionalmente ela deveria querer Aidan. Mas quem fazia o coração descompassar era o boy lixo do Big. E o Berger. E o Russo. Todos esses fizeram a Carrie sentir, e não querer sentir. Entendem a diferença? Por mais desprezíveis que fossem (oi, Berger), a paixão foi real, saiu de dentro dela. Apesar de um ser um beatnik frustrado e com problemas de autoestima; do outro ser um artista egocêntrico potencialmente problemático e apesar do Big ter errado com ela centenas de vezes. Era amor sem dever ser amor.

E é assim que amor deve ser.

4.

Eu também já tive uma relação assim. Tive uma pessoa que preenchia cada uma das coisas que eu coloquei na minha checklist de relacionamento perfeito, menos a caixinha da paixão, do arrebatamento, das mãos frias e das pernas bambas. Por conta disso, dessa falta que para os mais racionais poderia ser contornada, eu não consegui seguir.

Pra mim é muito claro: se falta o que me faz tremer, então não me resta nada.

Amor deveria ser [apenas] sentido e não barganhado, negociado, ponderado, não é?

5.

A real é que nem sempre a pessoa que é a perfeita aos olhos dos outros, do lado de fora, é a que a gente quer. Como canta a Selena, “há um milhão de motivos para que eu desista de você, mas o coração quer o que ele quer”. E é sobre isso!!!!111111 o coração sabe o que ele quer e o da Carrie sempre quis o Big. Doa a quem doer, Big foi o amor da vida dela e a gente conseguiu ver isso desde o primeiro episódio, quando mais do que afinidade, eles compartilharam uma química absurda antes mesmo do primeiro beijo.

absofuckinglutely. Mr. Big | City quotes, Sex and the city, Movie quotes
O humor deles, a sintonia dEles, sabe???

6.

E se você, hater do Big (como eu já fui) vier me xingar, eu te apresento mais um argumento: além de tudo isso que foi escrito, tem a grande questão de timing, também sabiamente explorada por How I Met Your Mother.

Muitas vezes, você encontra a pessoa certa na hora errada e, por conta disso, as coisas não andam, não dão certo. O contrário também acontece e na vida real – por exemplo, João morava no Canadá e voltou ao Brasil em 2021. Ele perdeu o voo e atrasou sua volta em 10 dias. Esses 10 dias foram cruciais pra gente se conhecer – se ele tivesse voltado no voo “original”, não teríamos saído. O resto é história.

No caso da Carrie e do Big, eles tinham química, tinham paixão, tinham tudo. Só o que faltava era o timing. E, como disse a Robin, “timing is a bitch”.

Precisou, sim, de 6 temporadas para que eles finalmente terminassem juntos. Da mesma forma que talvez agora a gente veja o momento da Carrie e do Aidan. E talvez agora eles possam dar certo porque não existe mais Big. Não existe mais a sensação de ter o amor da vida “do lado de fora” enquanto tenta emular esse sentimento com outro alguém no lado de dentro. E por mais que nem sempre a Carrie quisesse o Big, ela queria a sensação de viver um amor como aquele que conheceu.

Enquanto o Aidan oferecia conforto, ela queria movimento.

Agora, na segunda temporada de And Just Like That, depois de 6 temporadas de SATC, de anos de casamento, de um luto agitado, de cirurgia nos quadris, de um término de amizade, de vomitar na frente de um bar depois dos 50 anos…

Talvez a Carrie queira conforto.

E isso diz muito sobre timing.

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